Há diferenças entre os sexos no processo de envelhecimento?

Quando nos referimos ao sexo (biológico) e não ao gênero (construção social), as pesquisas mostram que as mulheres, em todo o mundo, tendem a viver mais. Isso não quer dizer, no entanto, que envelheçam melhor, pois são muitas as variáveis que envolvem este processo. 

No Brasil, de acordo com dados do IBGE, em 2022 a expectativa de vida das mulheres era de 79 anos e a dos homens, 72.

 
Essa vantagem das mulheres também é observada em mamíferos não humanos, inclusive algumas espécies apresentando uma diferença média ainda maior na expectativa de vida do que os humanos. Historicamente, a população masculina costuma ser mais exposta a mortes por causas externas, como violência e acidentes. Entretanto, existem algumas teorias que tentam explicar essa diferença na expectativa de vida entre os sexos.

Autocuidado

As mulheres tendem a utilizar mais a assistência em saúde, tanto em consultas preventivas periódicas, tendo-se como exemplo a ginecológica, como nas consultas médicas devido a sintomas específicos. Isso significa que seus problemas de saúde e doenças mais graves podem ser diagnosticados mais cedo, aumentando a chance de recuperação e sobrevivência.

 
O homem tende a apresentar maior resistência em procurar assistência médica e fazer exames, o que dificulta diagnósticos precoces.

Envelhecimento cerebral

O número de novas conexões cerebrais de todas as pessoas diminui com a idade, e o metabolismo do cérebro também fica mais lento. Em ambos os casos, as mudanças parecem acontecer mais rapidamente no cérebro masculino. De acordo com um estudo de 2019, o cérebro masculino médio é cerca de três anos mais velho, em termos funcionais, do que o cérebro feminino médio.

 
O comprometimento cognitivo também parece ter fatores causais diferentes para homens e mulheres. É mais comum em homens que estão acima do peso, têm diabetes e/ou problemas circulatórios. Já entre as mulheres, é mais comum nas que dependem de outras pessoas para tarefas diárias e que não tenham uma rede social forte. Ou seja, o aspecto social parece pesar mais no envelhecimento cerebral das mulheres.

Mas os homens têm algumas vantagens no envelhecimento...

Aparência
Há um estereótipo que os homens envelhecem “melhor” que as mulheres e há alguma ciência por trás disso, quando se considera o colágeno. Este é uma proteína encontrada na pele e nos tecidos conjuntivos que torna a pele elástica e que está associado à aparência jovem. 

O corpo humano perde colágeno à medida que envelhece, e é por isso que a pele adquire uma aparência diferente. Os homens começam a perder colágeno mais cedo, entretanto, essa perda se dá de forma mais gradual ao longo da vida. As mulheres tendem a reter mais até a menopausa, quando o perdem a um ritmo dramático. 

Assim, enquanto os homens parecem envelhecer mais lenta e gradualmente, as mulheres experimentam uma mudança mais repentina e marcante na idade que parecem.

Hormônios sexuais

Os hormônios sexuais afetam bastante o processo de envelhecimento, e à medida que se envelhece há uma diminuição da secreção destes. Os hormônios masculinos são chamados de androgênios. O androgênio primário – a testosterona – ajuda a regular a massa muscular, a massa óssea e a função física geral. 

A diminuição nos seus níveis está relacionada com o aumento da gordura abdominal, problemas de equilíbrio, lesões mais frequentes e com o desenvolvimento de depressão, obesidade, diabetes e apneia do sono. Os estrogênios são os principais hormônios femininos e o declínio nos seus níveis causam prejuízos na função sexual, desempenho físico diminuído, ganho de peso em gordura, declínios cognitivos, mudanças emocionais e perda óssea.

 
Assim, quanto menores os níveis dos hormônios sexuais, menor tende a ser a expectativa de vida. Neste caso, os homens tendem, mais uma vez, a levar vantagem, pois o declínio dos androgênios nos homens tende a ser mais gradual, ocorrendo em longo prazo. No caso das mulheres, o declínio da produção hormonal, que ocorre na menopausa, é brusco, causando uma série de efeitos colaterais, o que diminui muito a qualidade de vida, afetando o processo de envelhecimento.

 
Muitos fatores influenciam o modo como envelhecemos. Alguns deles estão fora do nosso controle, como a genética e o declínio dos níveis hormonais. Outros – incluindo nutrição, estilo de vida e meio ambiente – podem ser mudados com o objetivo de aumentar a nossa expectativa de vida e melhorar a forma como envelhecemos.